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O que a série “A queda da casa de Usher” tem a dizer sobre direito do consumidor?

ATENÇÃO: Essa coluna tem spoiler sobre a série!


Mike Flanagan surpreendeu novamente com sua habilidade única de adaptar obras clássicas e transformá-las em histórias contemporâneas. Em sua série mais recente, ele mergulha no universo sombrio e visceral de Edgar Allan Poe, um dos maiores nomes da literatura do terror e do romantismo norte-americano. “A Queda da Casa Usher” não é apenas uma releitura das obras do autor; é também uma viagem profunda pelos traumas que marcaram sua vida e pela atualidade inquietante de temas como poder, corrupção e vícios.


A série apresenta a decadência da família Usher, proprietária da farmacêutica Fortunato, responsável por uma epidemia de opioides – um reflexo perturbador das crises reais que assolam o mundo moderno. Aqui, Flanagan não apenas homenageia Poe, cuja vida foi marcada por seus próprios vícios, mas também dialoga com um problema global: a ganância que transforma remédios em armas de dependência. Enquanto na literatura de Poe a morte é um personagem indispensável, na série ela ganha forma na figura de Verna, uma adaptação magistral do poema “O Corvo”, personificando o carma produzido que ronda os pecados dos Ushers.


No entanto, o que aconteceria se essa história fosse julgada em um tribunal de direito? É impossível não imaginar que os membros da família sejam responsabilizados pelos seus crimes. Roderick e Madeline Usher, os líderes do império farmacêutico, enfrentaram acusações gravíssimas, como tráfico de drogas e adulteração de medicamentos, crimes previstos no Código Penal brasileiro. Além disso, o homicídio premeditado do antigo dono da Fortunato e a corrupção ativa para encobrir irregularidades garantiriam penas que poderiam superar 30 anos de reclusão.


Os filhos da família Usher também não escaparam da justiça. Prospero, cuja festa insana resultou em mortes por ácido, respondeu por homicídios causados ​​e crimes ambientais. Camille, estrategista de imagem da família, poderia ser enquadrada por fraude processual e difamação. Victorine, com seus experimentos ilegais em animais e ocultação de falhas tecnológicas, enfrentaria penas de falsificação e estelionato. Tamerlane, com sua fachada empresarial GoldBug , seria julgada por lavagem de dinheiro e exploração de trabalhadores. Frederico, herdeiro mais dedicado ao legado da família, acabou condenado por tortura e associação criminosa. Até Napoleão, com seu comportamento destrutivo e maus-tratos aos animais, enfrentaria consequências legais.


No âmbito do Direito do Consumidor, as práticas da Fortunato escancaram claramente graves. Produtos que causam dependência, publicidade enganosa e danos à saúde pública configuram infrações que poderiam resultar em multas, interdições e reparações civis por danos coletivos. A farmacêutica simboliza o lado mais sombrio das grandes corporações: a exploração da dor alheia em troca de lucro.

Flanagan, ao costurar os contos de Poe com uma narrativa atual, não apenas revive o legado do escritor, mas nos faz refletir sobre os limites éticos do poder e do dinheiro. Se a ficção nos oferece o carma na forma de Verna, a realidade nos pede justiça – seja ela nos tribunais ou na consciência coletiva. Afinal, o preço da ganância sempre encontra seu cobrador.


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