Racismo Ambiental e o impacto desigual da crise climática
- Ana Clara Tkaczyk
- 8 de abr.
- 3 min de leitura
Em abril de 2024, o Brasil parou diante das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul. Cidades inteiras foram alagadas e milhares de pessoas ficaram desabrigadas após terem seus lares destruídos em questão de horas. Muitas delas precisaram se deslocar rapidamente para abrigos ou casas de conhecidos em regiões menos afetadas. Enquanto isso, moradores de comunidades mais isoladas aguardavam resgate em cima de telhados e árvores, sem acesso à água potável, comida ou qualquer tipo de ajuda imediata.
No mesmo ano, diversos estados enfrentaram uma onda de calor intensa e um aumento expressivo nas queimadas. Segundo dados do MapBiomas, entre janeiro e setembro houve um crescimento de 150% nas áreas queimadas em relação ao ano de 2023, sendo o pior cenário desde 2019. O bioma mais afetado no mês de setembro foi a Amazônia, onde vivem povos indígenas e comunidades ribeirinhas que dependem diretamente da floresta e enfrentam os incêndios com poucos recursos, muitas vezes sem apoio algum.Embora esses desastres ambientais sejam diferentes, todos são consequência da intensa crise climática que se espalha pelo território brasileiro, entretanto, seus impactos não são iguais para todos.
O termo “racismo ambiental” foi inicialmente apresentado pelo ativista afro-americano Benjamin Franklin Chavis Jr, na década de 80, durante protestos ambientais, com o intuito de denunciar os depósitos de resíduos tóxicos na comunidade de Warren, localizada na Carolina do Norte, onde majoritariamente residia uma população negra. Chavis queria mostrar que não se tratava apenas de uma questão ambiental, mas também de justiça social. O despejo de resíduos tóxicos em áreas que habitavam uma população em sua maioria negra e pobre mostrava como fatores como raça e classe social influenciam diretamente quem mais sofre com os danos ambientais. Desde então, o termo “racismo ambiental” passou a ser usado para nomear esse tipo de desigualdade, em que comunidades historicamente marginalizadas enfrentam os piores efeitos da crise ambiental e recebem menos apoio e proteção do Estado.
No Brasil, esse termo vem ganhando popularidade cada vez mais nos dias atuais e nos debates sobre justiça climática, sendo indispensável para compreender a situação atual do nosso país.Em tempos de calor extremo, enchentes e queimadas, é impossível não perceber quem são os mais afetados pela situação climática. Nesse sentido, não é coincidência que os territórios mais expostos a desastres naturais, à poluição e à negligência do Estado sejam ocupados majoritariamente por populações negras e indígenas.
Fato que pode ser comprovado no caso do rompimento da barragem de Mariana, em 2015, quando a lama tóxica liberada pela barragem da Samarco se espalhou por centenas de quilômetros. O desastre causou o desabrigamento de moradores, destruiu a fauna e a flora locais e gerou impactos profundos para produtores rurais e para as comunidades indígenas e ribeirinhas que dependiam da pesca, do comércio e do turismo local. O impacto foi tão grande que não atingiu apenas o sustento dessas populações, mas também a cultura e a identidade dessas populações, que até hoje convivem com as consequências desse desastre.
Diante disso, não se pode falar em reduzir as emissões de gás carbônico ou proibir a população de consumir canudos ou sacolas plásticas sem antes solucionar a situação dessas comunidades que já estão enfrentando as consequências da crise climática. Falar de sustentabilidade sem incluir essas pessoas é contraditório, porque enquanto alguns discutem sobre consumo consciente, outros seguem sem acesso à água potável, respirando ar poluído e tendo suas casas destruídas por enchentes ou queimadas.
Portanto, não é possível não associar a pauta ambiental com a pauta racial. Logo, lutar contra a crise climática significa, também, enfrentar as desigualdades expostas por ela. Enquanto essas comunidades continuarem sendo deixadas de lado, qualquer iniciativa sustentável será inútil e injusta. Logo, é preciso incluir e proteger essa população, que é historicamente marginalizada, para que, de fato, ocorra uma justiça ambiental.
REFERÊNCIAS:
BRASIL. Secretaria de Comunicação Social. O que é racismo ambiental e de que forma impacta populações mais vulneráveis. 2024. Disponível em: https://www.gov.br/secom/pt-br/fatos/brasil-contra-fake/noticias/2024/o-que-e-racismo-ambiental-e-de-que-forma-impacta-populacoes-mais-vulneraveis. Acesso em: 6 abr. 2025.
CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES EM SAÚDE – CEE/Fiocruz. Racismo ambiental: as consequências da desigualdade socioambiental para as comunidades marginalizadas. Disponível em: https://cee.fiocruz.br/?q=racismo-ambiental-as-consequencias-da-desigualdade-socioambiental-para-as-comunidades-marginalizadas. Acesso em: 6 abr. 2025.
JORNAL USP. Racismo ambiental é conceito pouco usado na universidade para analisar desigualdades. Disponível em: https://jornal.usp.br/diversidade/racismo-ambiental-e-conceito-pouco-usado-na-universidade-para-analisar-desigualdades/. Acesso em: 6 abr. 2025.
MAPBIOMAS. Área queimada no Brasil entre janeiro e setembro foi 150% maior que no ano passado. 11 out. 2024. Disponível em: https://brasil.mapbiomas.org/2024/10/11/area-queimada-no-brasil-entre-janeiro-e-setembro-foi-150-maior-que-no-ano-passado/. Acesso em: 6 abr. 2025.
SENADO FEDERAL. TV Senado. Racismo ambiental: pessoas mais vulneráveis sofrem mais efeitos da crise climática. EcoSenado, 12 dez. 2024. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/tv/programas/ecosenado/2024/12/racismo-ambiental-pessoas-mais-vulneraveis-sofrem-mais-efeitos-da-crise
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